Farinha de banana verde é esperança para diabéticos
Amido resistente, presente na fruta verde, reduz o açúcar no sangue.
A banana ficou famosa nos turbantes, nas músicas e nos cenários dos filmes da nossa pequena notável, Carmem Miranda. Que riqueza! Símbolo dos trópicos, a fruta é rica em carboidratos, vitaminas A e C, fibras e sais minerais, especialmente o potássio. Também ajuda a afastar o mau-humor, porque tem triptofano, substância que aumenta os níveis de serotonina e age como um antidepressivo. Um alimento tão completo que é sempre objeto de estudos.
Em um laboratório, é a vez da banana verde. Tudo porque ela tem uma substância especial: o amido resistente.
"O amido resistente é característico desse fruto verde. No processo de amadurecimento, esse amido resistente é degradado e transformado em sacarose", explica a mestre em ciência dos alimentos Milana Dan.
No laboratório de química e bioquímica do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), o objetivo é aproveitar o amido resistente da fruta verde.
"Esse amido resistente passa direto pelo intestino delgado, não é nem absorvido, nem digerido. Quando ele chega ao intestino grosso, é digerido pelas bactérias que ali existem. Essas bactérias, quando digerem esse amido resistente, produzem substâncias que são benéficas, tanto no intestino grosso como no nosso organismo em geral", acrescenta Milana Dan.
Benefícios que vão desde nos proteger contra um câncer de intestino até evitar o aumento de glicose no nosso sangue e como conseqüência, o diabetes.
"É importante sempre procurarmos controlar a glicemia – a glicose no sangue – e os níveis de insulina também", orienta a doutora em ciência dos alimentos Elisabete Wenzel de Menezes.
Mas como ninguém vai comer banana que ainda não está madura, os pesquisadores estão desenvolvendo uma farinha: a farinha de banana verde. Até agora, os testes em ratos durante 28 dias apresentaram um resultado animador. Com os seres humanos, os testes começam agora. Mas os primeiros ensaios mostram uma grande diferença no aumento da glicose no nosso sangue.
"Quando consumimos a banana madura, esse aumento é elevado e rápido. Quando consumimos a farinha de banana verde, esse aumento é muito menor e bem lento", informa Milana Dan.
O processo de fabricação da farinha, totalmente desenvolvido na Escola Politécnica da USP, já foi inclusive patenteado.
"Na fabricação da farinha de banana verde, você pode utilizar até aquelas bananas que normalmente são rejeitadas para a comercialização", diz a doutora em engenharia química Tatiana Tribess.
"De 40% a 50% do que é produzido de banana no Brasil não são utilizados como alimento", ressalta a doutora em tecnologia de alimentos Carmen Tadini.
Consumir a farinha de banana verde é um dos desafios. Como ela possui um sabor neutro, pode substituir em parte a farinha de trigo. Por enquanto, uma das propostas já deu certo.
Flocos de arroz, aveia e banana madura desidratada entram em uma receita, além da farinha de banana verde.
Uma barrinha tem uma grande quantidade de fibras que auxiliam a digestão. Cada uma possui apenas 70 calorias. E as vantagens não param por aí. Estudos indicam que um lanche com a barrinha pode provocar uma sensação de saciedade, ajudar a inibir a fome.
A rota da banana
A banana é a fruta mais produzida do mundo. Só no Brasil são sete milhões de toneladas por ano. A fruta mais popular do Brasil é cheia de qualidades e nunca pode faltar à mesa. Por isso mesmo, o brasileiro está acostumado a considerar a banana um alimento comum, barato e fácil de encontrar o ano inteiro. Mas você sabe de onde vem a banana comprada nas feiras e nos mercados?
Geralmente, ela não vem de muito longe. O Vale do Ribeira é a região que mais produz bananas no país e que abastece o estado de São Paulo. São 40 mil hectares às margens do Rio Ribeira do Iguape cobertos de bananeiras.
"Existe uma fruta mais bem embalada do que a banana? Ela já vem embalada da natureza. Você só a despenca. Então, é uma fruta limpa, que qualquer pessoa pode comer", afirma o produtor de bananas Ricardo Chimichaque.
Só no campo, a banana emprega 1,5 milhão de brasileiros. Ao todo, 80% são pequenos e médios produtores como seu Ricardo. Gente que tem paciência para acompanhar, durante um ano, a bananeira dar um cacho que esteja no ponto de ser colhido.
"Quando você corta o cacho, aquele pé morre. Só que ela já está com duas ou três filhas embaixo. A mãe morre e a filha já fica quase pronta para dar cacho. Essa vai soltando outra filha embaixo. Então, a seqüência da vida é essa", explica seu Ricardo.
O ciclo de vida dessas plantas se repete na história de quem vive delas. Antônio Josué Leite trabalha com toda a família no bananal do Vale do Ribeira. A herança que recebeu do pai, ele está passando para o filho Jean. "Sou filho de bananeiro e vivo até hoje assim", diz o produtor.
Trabalho duro e delicado. Todo cuidado é pouco para não machucar a banana. Mesmo assim, o descarte de parte da colheita já começa no bananal. Evitar mais perdas é uma corrida contra o tempo: colher, limpar, lavar e encaixotar.
Onde as bananas vão parar? O Globo Repórter colocou um selinho em um cacho que seu Antônio acabara de colher. A equipe acompanhou o caminho que as bananas fizeram até o consumidor final, a pessoa que comeria as frutas.
Às 3h, o caminhão com 14 toneladas de banana saiu de Eldorado em direção à cidade de São Paulo. E o Globo Repórter fez essa viagem também. Durante as quatro horas de viagem, a banana sofre. Cada solavanco e cada buraco na estrada é uma ameaça.
"Todas essas batidas no meio do caminho vão formar aquelas manchas pretas que o consumidor está acostumado a ver na fruta em casa", explica o diretor do Instituto Brasileiro de Frutas, Maurício Ferraz.
Às 7h30m, o caminhão chegou a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), mas as bananas ainda não estavam prontas para a venda.
Na maior central de distribuição de frutas e legumes do país, a banana é descarregada e vai para uma câmara de climatização. Ela leva três ou quatro dias para ficar quase madura, no ponto para ser comercializada.
O cacho de banana do Globo Repórter chegou à casa de Alessandra bem bonito e, pelo jeito, será totalmente aproveitado. Mas nem sempre é assim. Nas feiras-livres, muitas bananas são rejeitadas.
"Se a banana está passada, amassada e com cara de estragada, eu não vou comprar", afirma uma consumidora.
"Quando está muito madura eu não levo. Para mim, já não dá", diz outra consumidora.
Seu Antônio fala sobre a sensação de saber que boa parte da banana que planta com todo carinho acaba se perdendo pelo caminho: "Ficamos tristes, porque cuidamos, fazemos força e queremos que tudo corra bem. Muita gente não come banana porque não tem e nós estamos perdendo banana à toa".
Fonte: Globo Reporter no Portal www.g1.com.br